Síndrome do coração partido

Facto nº1

 Existe um síndrome de coração partido

“Esta síndrome é de ocorrência muito rara, e acomete principalmente as mulheres de meia idade. Tanto pelo grupo de pessoas mais acometidas, como pelo seu nome, poderia haver a sugestão de que se trate de um envolvimento mais relacionado a coisas emocionais do que a uma doença orgânica do coração. “ ( in ABC da Saúde )

Facto nº 2

Ao trabalharmos os nossos músculos, estes fortalecem através de lesões microscópicas, essas tais dores que sentimos, no dia seguinte a um esforço físico maior são sinais de que estamos a fortalecer o músculo .

Facto nº3

O coração é um músculo


Outros factos

Viajamos pelos sentimentos.

 Um destes dias de sol de inverno, caminhando ao ar livre, de repente assombra-nos o estrondoso barulho das hélices a passar no céu, todos que ali estão olham para cima e eis que se mira um helicóptero em todo o seu esplendor, uma máquina bem barulhenta e ousada por voar tão baixo.
E pergunto-me se não será esse o destino de quem tem um coração partido, esse músculo que fortalece a cada lesão, se quem o tem assim, partido, partidinho, não sente que todos olham e vêem o barulho das hélices a passar, quem tem o coração partido tem um turbilhão lá dentro, tanto pedaço de coração, tanto estilhaço.
Também, quem amou e não roubou outro coração, deixou que o seu, assim abandonado, se partisse, poderá sentir-se não barulhento mas transparente, como se o seu peito se erguesse de cristal, cristal límpido que deixa transparecer todo esse grande desastre.

“ Ali vai a de coração partido”, afirmariam os que a viam passar e vislumbrando todos aqueles pedacinhos vermelhos, se questionariam “ Porque não pega ela nos cacos para os tornar a juntar?”  mal sabe essa gente que nem as meias consegue juntar por cores na gaveta quanto mais fazer esse puzzle de gente grande, essa coisa de colar pedaços de desastre miocárdio.
E é aqui que chegamos ao facto número dois, realmente este músculo irá tornar-se nessa besta forte ao recuperar desta lesão.
Mas, acordamos e apercebemo-nos que não é o mundo que nos aponta o dedo mas sim nós mesmos que vemos o coração assim em tantos pedaços, em todo esse rubor, tão forte, tão potente que parece ultrapassar carne, ossos, tendões, paciência, impaciência e assim, vemos tudo com tanta clareza, essa máquina dos sentidos, tanta clareza que nos sentimos, nus, transparentes e feitos de cristal.
Desengane-se quem julga que os corações se partem apenas pelos namorados e não namorados, desengane-se quem julga que só por vivermos em novelas podemos partir o coração.
O coração também se parte porque precisa se adaptar, precisa se fortalecer, crescer.
Também parte o coração, quem perde um bichinho, quem vê vários familiares falecerem, quem vê amigos morrerem, não fisicamente mas porque nos enganámos.
A culpa não é deles mas nossa porque os deixámos entrar.
Muitos vêem a longevidade como vantagem, já viram a capacidade maior que existe em partir a nossa máquina, por vivermos mais?
Quantas despedidas aguenta o coração?
A quantos litros de água a ferver resiste  a chávena rachada ?
Este não é o texto de alguém com o coração partido mas de alguém que percebeu que este músculo também é elástico, e que em todo o seu esplendor alberga, os nascimentos, despedidas, boas vindas, amigos, papá, mamã, mano, sobrinhos, milhentos tios, avós, conquistas e lutas muitas lutas venham elas por favor, venham as rosas e as peónias, venha o pink!!, venha o glamour, vestidos, muitos vestidos venha o mar, gatinhos e cãezinhos, venham todos os bichinhos, as receitas, os livros, os beijos, os concertos, os Açores, o Mundo! Venha tudo que a minha máquina aguenta e já está à espera.



Ida Pinheiro